A máquina de debater

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Ele lutou com o anjo e recebeu a vitória; chorou e suplicou o seu favor.”
Oseias 12:4

Quando a História começou o homem aprendeu a contar casos, longas conversas num distante dia, longe do tempo da tecnologia. Foi naquela vez que fomos inventados, juntados em bandos para combinar a caça, encontrar a água, dissimular a verdade do inimigo.

Como as ervilhas de Mendel fomos cruzados, misturados, combinados, tanto que povoamos a Terra e fomos quantos que… será que existe lugar no mundo em que se esconda um vivente e, pior, sem celular?

Acho que não. Se a gente fosse estatística era certeza que, mais uns anos, já nascia com plano pós- pago. Dizem que vem 2025 e 71% da população já vai ser assim: conectada!

A vida é mesmo um plano pós-pago e, se não pagamos a conta, dizem que a prestamos depois, na eternidade. Só que, enquanto não chega a hora, temos contas a acertar por aqui mesmo, nós e as máquinas.

Já não estamos sós e nossa companhia, um robô, quer debater, foi criada para isso, debatedor profissional e maluco. Na vez primeira que enfrentaram homens, vi os dois lados capazes de compilar argumentos a convencer a audiência. Venceu um, venceu outro, e entre vitória e vitória as ervilhas se lançaram ao ar, confusas a se perguntar: que será agora?

Claro está que já não é igual, já não somos senhores das teses, nosso fogo sagrado foi roubado e juízes, professores, políticos, artistas e seus que tais, quais estarão à salvo, sem favores de uma inteligência experiente, exponente e exponencial?

Tudo muda agora, tudo! Qual prensa mágica que transformasse em mensagem as ideias dos homens nos há de salvar? Uma vez fomos máquinas de escrever e cedemos a missão aos algoritmos, sempre eles. Estávamos felizes, então. Nada disso adianta mais. Rápidos em demasia, os computadores compilam e, porque compilam, formulam e, porque formulam, pensam. Pensam, logo existem!

Existem e são capazes de nos enfrentar, não com corpos mutantes de metal brilhante dos filmes do Schwarzenegger, mas com ideias e, formando ideias das coisas que leem de instantâneo, meu Deus, que será de nós, que já não lemos poesia, que já não cremos em versos?

Mais uns anos, acho que os computadores contarão histórias, uns para os outros. É onde reside minha esperança. O Rubem Alves, em seus escritos, recontou Garcia Marquez e nos ensinou que, quem especula de um morto o revive, de uma forma que os vivos não podem viver, fogo que imiscui a alma sem pedir licença.

Se agora os autômatos podem debater, quem sabe um dia já não vivamos mais, nenhum homem. Nesta hora nosso corpo inerte será qual cena de Rembrandt em sua lição de anatomia. Robôs estarão em torno do defunto e se perguntarão:

_ quem será que foi? O que fazia? Suas mãos, parece que labutavam. Suas pernas, parece que corriam. Quem será que foi? Com que sonhava?

Como na aldeia de Gabriel e Rubem, eles nos enterrarão, afinal. Mas seus programas nunca mais serão os mesmos, sempre se lembrando de quem fomos um dia.

Roberto Francisco de Souza
CEO da KUKAC – A solução congnitiva